sábado, 16 de outubro de 2010

Antônio Cícero e o Aborto

Antônio Cícero escreveu, na Folha de São Paulo, algo que achei um tanto quanto interessante. Não pude me conter, frente aquilo que li, e resolvi fazer um pequeno comentário do texto. Assim, no link abaixo, o leitor verá o texto de Cícero e meus comentários negritados. Convido a todos para expressar suas opiniões, criticas, apoio ou desaprovação no comentários.

Se não me engano, algum tempo atrás Lula previu que, nas eleições deste ano, todos os candidatos à Presidência seriam de esquerda. De fato, os três mais votados candidatos do primeiro turno, logo, os dois do segundo, são considerados de esquerda.

Eis ai um belo exemplo de democracia, uma eleição de esquerdistas... realmente, Lula é um GRANDE estadista DEMOCRÁTICO.

Serão mesmo? Pensaria o contrário quem, sem nada saber dos candidatos, visse as fotos diárias que a imprensa publica de cada um deles a assistir à missa; ou suas declarações de fé; ou suas confraternizações com pastores e políticos evangélicos; ou as promessas de obediência que fazem a líderes religiosos; ou suas renegações da proposta da descriminalização do aborto...

A Teologia da Libertação está ai para provar a total possibilidade de junção entre esquerdismo e religião. Se alguém têm dúvidas da possibilidade, e até mesmo da intencionalidade disso, leia os textos de Antônio Gramsci para perceber o que é a nova proposta da esquerda ocidental.

Dois dias atrás, afirmando que uma eleição é o pior momento para debater qualquer questão que seja, Contardo Calligaris postergou uma discussão sobre o aborto. Acho que ele estava certo. Contudo, tendo lido inúmeros ataques à tese de que o aborto deve ser descriminalizado, mas nenhum argumento a favor dela, resolvi lembrar aqui alguns que me parecem decisivos.
E, para mim, os argumentos mais decisivos são os do filósofo francês Francis Kaplan no seu livro "O Embrião É um Ser Vivo?", por ele resumidos em entrevista que a Folha publicou em abril de 2008.
Segundo Kaplan, deve-se distinguir entre "estar vivo" e "ser um ser vivo". Um ser vivo não é apenas um ser que tem funções (pois várias partes do ser vivo têm funções), mas um ser que tem todas as funções necessárias para estar vivo. Assim é um ser humano, por exemplo. Já o olho do ser humano, na medida em que lhe faculta enxergar, está vivo, mas não é um ser vivo. O olho está vivo somente na medida em que faz parte do ser vivo que é o ser humano.

Quais seriam essas funções? Raciocinar, interagir, sociabilizar-se, etc?

Assim também o embrião está vivo somente enquanto parte de outro ser vivo, que é a sua mãe. Por si mesmo, "as funções vitais de que ele precisa para estar vivo são as da mãe. É graças à função digestiva da mãe que ele recebe o alimento, que pode usar somente por lhe chegar previamente digerido pela mãe; é graças à função glicogênica do fígado da mãe que ele recebe a glicose; é graças à função respiratória da mãe que os glóbulos vermelhos de seu sangue recebem o oxigênio; é graças à função excretória da mãe que ele expulsa materiais prejudiciais, dejetos que, de outro modo, o envenenariam".

A pergunta que Marcelo Coelho faz é muito interessante para essa questão, diz ele que: Isso significaria que o embrião é uma parte da mãe, como o olho é uma parte do ser vivo ao qual pertence. Mas o embrião também não provém do pai? E como se pode ser ao mesmo tempo uma parte de um ser vivo –a mãe—e uma parte de outro ser vivo –o pai? Não se deveria concluir que ele é um novo ser independente tanto da mãe quanto do pai?

E mais: "Não é o embrião que se desenvolve: é a mãe que, por meio da produção da serotonina periférica no sangue, determina, durante mais da metade da gestação, o desenvolvimento neurobiológico e a viabilidade futura do organismo que carrega".

Determina como, através de sua própria vontade?

Kaplan explica, ademais, que, pelo menos até o terceiro mês da concepção, o feto não tem atividade cerebral. Acontece que, como ele observa, "um homem sem atividade cerebral é considerado clinicamente morto".

Considerar clinicamente morto é factualmente estar morto?

Ora, "o prazo de três meses é o prazo dentro do qual a maioria das mulheres que quer abortar aborta, mesmo que possam legalmente fazê-lo mais tarde".

Dito isso, vê-se que não é totalmente verdadeiro, como se supõe às vezes, que o embrião esteja para uma criança como uma semente para uma árvore ou um ovo para uma ave. Uma semente largada na terra pode tornar-se uma árvore; e um ovo pode, sendo incubado, tornar-se uma ave; um embrião, porém, não é capaz de se tornar uma criança fora do corpo da mãe.

Heim??? Terra = Corpo; Ovo = Corpo; Um ovo não é um embrião. Uma semente não pode efetivar sua potencialidade sem o solo que terá de ceder a ela alimento para seu desenvolvimento. Apesar da analogia ser possível, ela, aqui, parece provar justamente o contrário do que Kaplan quer.

Se, portanto, não se pode comparar a destruição de uma semente com a derrubada de uma árvore nem se pode comparar quebrar um ovo com matar uma ave, menos ainda se pode comparar o aborto, como querem alguns religiosos, com o assassinato de uma pessoa.

A complexidade de uma arvore, ou de uma ave, não se compara a complexidade de um Ser Humano. No entanto, se destruíssemos todas as semente de uma determinada espécie de arvore, impediríamos que ela existisse. Considerando que arvores não têm identidade própria, como o tem todo Ser Humano, salvo os que sofrem de determinadas patologias, destruir um embrião é destruir um “ser único” em potência. Como diz o poeta Mário Quintana, roubam-lhe o céu, a beleza, roubam-lhe tudo, o aborto é o maior de todos os roubos. (paráfrase pois não me recordo literalmente dos versos)

Que pensar então da tese de que a vida da mãe não vale mais que a do feto?

É óbvio que a vida da mãe vale mais que a do feto, pois ela têm toda uma complexidade social que o feto ainda não têm, mas terá pois essa é sua potencialidade. Pensando nesse raciocínio, seria válido afirmar que a vida de um jovem – que têm toda uma potencialidade de possibilidades e tempo para viver - vale mais do que a de um velho – que por ter vivido e desgastado seu corpo já não têm mais tanto valor. Se houvesse uma situação, na qual somente um dos dois pudessem viver, quem seria o cooptado? Creio que todos já ouviram a frase: “Mulheres e Crianças primeiro.”

Diga-se a verdade: quem se opõe à descriminalização do aborto defende não a vida, como alega, mas sim uma crença religiosa segundo a qual nem o prazer sexual pode ser um fim em si mesmo nem o ser humano é dono de si próprio ou do seu corpo.

Muito pelo contrário, existem órgãos como o clitóris e a glande que servem para o prazer, e segunda a crença religiosa, Deus criou o homem com esses órgãos. Além disso, antes daquilo que a religião prega como “pecado original”, já havia a fecundidade e procriação, assim como os ciclos de fertilidade. Logo, o sexo é anterior a qualquer situação de condenação. Se assim fosse, toda a mulher estéril seria naturalmente apedrejada, o que não ocorre na crença cristã. Quanto ao ser humano ser dono de si próprio ou do seu corpo, sim, ele é dono se si e do seu corpo, porém não é dono do corpo de outrem. Além disso, é interessante notar que, quando alguém tenta exercer sua autonomia corporal em um ato de suicídio, todos os que se importam tentam faze-lo(a) declinar do intento. Isso ocorre por que tudo o que fazemos com o nosso corpo, em comunidade, não atinge somente a mim, mas a todos a minha volta.

Ora, cada qual tem o direito à crença religiosa que bem entender, mas o Estado, que deve ser laico, não pode adotar nenhuma delas em particular.

O direito à vida não é Crença Religiosa, é previsto na Constituição Laica do Estado Brasileiro.

Nenhuma mulher recorre ao aborto por prazer, mas por sofrimento e para evitar ainda maior sofrimento para si, para sua família e para a criança que nasceria.

Mentira. O aborto ocorre devido a gravidez indesejada oriunda de relações sexuais fora de ambientes propícios para a constituição familiar. Não é para evitar sofrimento, mas para dar fim as responsabilidades que devem vir junto com o relacionamento sexual. No mais, sempre há a possibilidade de ceder a criança para adoção.

É uma grande crueldade que o Estado penalize ainda mais justamente as mulheres pobres que, sem recursos, são obrigadas a praticar o aborto nas piores condições imagináveis.

Ninguém é obrigado a praticar aborto, pratica quem quer. E são as mulheres pobres que mais recorrem a esses métodos – se é que essa estimativa de fato é verdadeira – por que não têm as condições necessárias – educação de qualidade, saúde de qualidade, etc. O Estado quer solucionar um problema gerado pela sua incompetência administrativa ao invés de fazer seu trabalho. Mais interessante ainda é o apelo da religião que promulga o sexo com compromisso marital, onde o ambiente é propicio para o nascimento e desenvolvimento da criança gerada, enquanto há uma crescente erotização da sociedade, crianças fazendo sexo em escolas etc. Bastaria observar as estimativas geradas a partir do movimento hippie e daquelas feitas 9 meses depois do carnaval para perceber que o clamor do cristianismo serve para a preservação da vida, família e sociedade.




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